Encontro das Águas / Presidente Figueiredo

Meu caro Ricardo,
O que mais impressionou positivamente no passeio do Encontro das águas foi a qualidade do guia e seu inglês perfeito. Como eu estava com um americano, foi gratificante não ter que ficar vertendo para o inglês as explicações. Parece incrível que o Valdeci tenha dominado o inglês tão bem, sem nunca viver fora do País, apenas com o curso da União Cultural.
O passeio realmente foi bastante bom, as descrições adequadas, eu incluiria apenas uma descida das canoas no igarapé, para uma apresentação de meia dúzia de árvores da Amazônia, que interessam aos turistas, como se faz nos outros locais da Amazônia. Cortar uma seringueira para mostrar a saída do látex, apresentar a embaúba como árvore pioneira, indicativa de floresta nova, bater um pau na sumaúma para mostrar a comunicação na selva e apresentar a utilidade do pau-rosa, o pau-de-novato cheio de formigas, alguma fruta da Amazônia, ou mesmo côcos de várias palmeiras, certamente enriqueceria o passeio, sem aumentar o investimento da tua empresa. Seria importante também falar algo dos animais, contrar que a borboleta-azul, Morphidae, se cria como lagarta nas folhas da bananeira, explicar que é tão difícil ver pássaros na mata, que os ornitólogos os identificam gravando as vocalizações, coisas assim.
Aco também, Ricardo, que os estrangeiros ouviram falar demais em derrubada da mata amazônica e querem saber algo a respeito disso, os guias podiam contar da utilidade das madeiras, da madeira certificada, do trabalho das autoridades para tentar impedir a derrubada ilegal, a exploração sustentável, etc. Notei que o nível cultural do visitante de Manaus é alto, não é uma viagem barata e nem é perto de nada, assim quem vai até aí, quer realmente entender a Amazônia e sai com certa carência de informações. Mas essas dicas são para melhorar o passeio, que em sí já é muito interessante e foi aplaudido por todos.
O passeio a Pres. Figueiredo, porém, foi bem decepcionante. Além de não contarmos com um guia – o motorista deu umas poucas informações -, as “cachoeiras” são na realidade corredeiras, sem interesse maior para a absoluta maioria dos visitantes, suiços, americanos e mesmo brasileiros que evidentemente conhecem Foz do Iguaçu.
Foi na realidade um dia perdido, esse tipo de “cachoeira” é abundante em São Paulo, e eria sido muito melhor termos ído ao Ariaú, apesar do mau-gosto do dono do hotel com campo de pouco para disco-voador e jacaré de concreto. É que a trilha suspensa do Ariaú é bem interessante, mas não sabíamos que era possível ir e voltar no mesmo dia.
Acho também, Ricardo, que você talvez pudesse montar algum programa no Bosque da Ciência, onde encontrei um grupo grande de americanos babando com as tartarugas, o jacaré-açu (Melanosucus niger), e muito bem atendido por voluntários que mostram a maior folha do mundo, tem amostra de óleo de pau-rosa e a historinha batida, mas novidade para o turista, de que é o fixador do “Chanel 5” e os detalhes da vida da cotia, do macaco-aranha e das ariranhas. Para o americano que acompanhei, e que conhece o mundo todo, esse passeio, embora rápido, foi o que causou maior impressão.
Bem, aí estão minhas impressões, um pouco longas, mas acho importante passá-las a você, porque certamente as levas imensas de finlandeses, portugueses e espanhóis que estão desembarcando no Nordeste vão acabar transbordando para a Amazônia, e vocês devem se preparar para um turismo muito mais intenso e também rentável do que agora.
Um abraço e obrigado,
Luiz Roberto